::L::S::R::  Um projecto parafilosófico
Não no tempo -- mas: a seu tempo

Wilhelm Reich
Seminário Brasil-Alemanha
22 e 23 novembro 2002
Instituto Goethe, São Paulo

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Wilhelm Reich e a Educação de Crianças

[Wilhelm Reich und die Kindererziehung]
Sumários | Kurzfassungen

Paulo Albertini e Bernd A. Laska

Sara Quenzer Matthiesen e Bernd A. Laska

Original >>> Tradução (Instituto Goethe, São Paulo)

Paulo Albertini

No século XVIII, mais especificamente em 1762 com a publicação de "Emílio ou Da Educação", Rousseau contribui de forma significativa para uma série de modificações na maneira tradicional como a sociedade européia do período concebia e, de maneira geral, lidava com a criança. Nessa maneira tradicional atribuía-se pouca especifidade à criança e, de forma coerente, na área educacional ela tendia a ter tratada como um adulto pequeno, sem características peculiares que pudessem acarretar um ensino diferenciado. Na obra citada, em linhas gerais, o autor genebriano posicionou-se contra a educação baseada na autoridade do adulto, na argumentação racional e na memorização. A seu ver, essa forma educativa estava em completa dissonância com o mundo da criança, centrado na alegria, na experiência concreta, na movimentação física, nas sensações e nos objetos. Além disso, o autor atribui importância decisiva à motivição da criança no processo de ensino, algo absolutamente contrário ao espírito da época focado apenas na figura do mestre que fala.

Por todas essas características, o pensamento educacional contido em »Emílio«, é considerado uma influência decisiva para a atividade educacional contemporânea. Um aspecto porém, dada sua centralidade no pensamento de Rousseau, merece destaque: a noção de natureza como algo positivo, um guia a ser seguido pois tudo faz do melhor modo.

Já na primeira metade do século passado, o psicanalista autríaco Wilhelm Reich, igualmente preocupado com a criança, com a sua educação, e com o seu pleno desenvolvimento, também vai trabalhar, em boa parte de sua obra, com uma noção positiva de natureza. Focalizar as conceoções de natureza presentes em escritos desses autores e, a partir disso, problematizar a atividade de educação das crianças, é a proposta deste trabalho.

Paulo Albertini

Im 18. Jahrhundert, genauer gesagt 1762, trug Rousseau mit der Veröffentlichung von »Emile oder Über die Erziehung« entscheidend dazu bei, dass es in der Art und Weise, wie die europäische Gesellschaft damals den Umgang mit Kindern verstand und handhabte, zu einer Reihe von Veränderungen kam. Bis zu diesem Zeitpunkt hatte man dem Kinde kaum eine besondere Eigenart zugeschrieben und dementsprechend herrschte denn auch auf dem Gebiet der Erziehung die Tendenz vor, das Kind als einen kleinen Erwachsenen ohne spezielle Merkmale anzusehen, denen durch einen differenzierten Unterricht Rechnung zu tragen wäre. In grossen Zügen spricht sich der Denker aus Genf in dem genannten Werk gegen eine auf Autorität der Erwachsenen, auf Vernunftschlüssen und Auswendiglernen fussende Erziehung aus. Von seinem Gesichtspunkt aus stand diese Art der Erziehung in völligem Widerspruch zu der Welt des Kindes, die ganz auf Freude, konkrete Erfahrungen, körperlichen Einsatz, auf Gefühl und Gegenständliches ausgerichtet ist. Ausserdem schreibt der Autor im Erziehungsprozess der Motivation des Kindes eine entscheidende Bedeutung zu, was dem damals vorherrschenden Zeitgeist, nach dem sich alles um den vortragenden Lehrer zu drehen hatte, völlig zuwiderlief.

Angesichts dieser Merkmale wird das im Emile zum Ausdruck gebrachte Erziehungsverständnis als ein wesentlicher Beitrag zur zeitgenössischen Erziehungspraxis betrachtet. Dabei gilt es jedoch, einen Aspekt besonders hervorzuheben, weil dieser im Denken Rousseaus eine zentrale Rolle spielt: Der als etwas Positives verstandenen Natur steht eine Art Führungsanspruch zu, denn sie vollbringt alles auf die beste Weise.

Nun hat bereits in der ersten Hälfte des vergangenen Jahrhunderts der österreichische Psychoanalytiker Wilhelm Reich, dessen Sorge ebenfalls dem Kind, seiner Erziehung und ganzheitlichen Erziehung galt, in weiten Teilen seines Werkes auch mit einem positiven Naturbegriff gearbeitet. Mein Ziel ist es deshalb, zunächst den in den Schriften dieser beiden Autoren gegenwärtigen Naturbegriff herauszustellen und davon ausgehend dann die Problematik der praktischen Kindererziehung aufzuzeigen.


Bernd A. Laska

Rousseau hatte gewiss einen "positiven", d.h. normativen Naturbegriff: "la nature est bon." Er schob ihn vor, um seine persönlichen Wertvorstellungen zu legitimieren. Seine "éducation négative", die der Natur ihr Recht geben sollte, ist aber ein Mythos oder ein Schwindel. Rousseau verliess sich nicht auf sie, wie einige Stellen im "Emile" zeigen, z.B.: "Lasst euren Zögling immer im Glauben, er sei der Meister, seid es in Wirklichkeit aber selbst. Es gibt keine vollkommenere Unterwerfung als die, der man den Schein der Freiheit zugesteht..." usw.

Bernd A. Laska

Reich wird zwar oft als Rousseauist bezeichnet. Ihm wird dann - wegen seines Therapieziels der "orgastischen Potenz" - ebenfalls ein normativer Naturbegriff zugeschrieben. Das geschieht aber zu Unrecht. Die Polemik, Reich propagiere ein naturalistisches Ideal, wurde stets von denen geführt, die ein kulturalistisches Ideal vertreten: die Anpassung an die Normen entweder der bestehenden Gesellschaft oder einer ausgedachten Utopie.

Reich vermied es, ein normatives Ideal aufzustellen. Er war deswegen aber kein Relativist. Er erforschte die Ursachen bestimmter Krankheiten, d.h. der (Charakter)-Neurosen/-Panzerungen und "Biopathien" von Individuen, die als pandemische Erscheinungen das gesellschaftliche Leben entscheidend beeinflussen. Reich sah die Ursachen hauptsächlich in der Erziehung, insbesondere in deren unbewussten und daher nicht leicht vermeidbaren Komponenten (1926: »Der Erziehungszwang und seine Ursachen«). In seinem späten Projekt "Children of the Future" (1950) vertrat er deshalb eine von Forschung begleitete und angeleitete Erziehung, die über Generationen hinweg eine immer wirksamer werdende Prophylaxe jener Krankheiten wäre.

É verdade que Reich muitas vezes é chamado de adepto de Rousseau. Tendo em vista o objetivo de sua terapia - a "potência orgástica", atribui-se também a ele - indevidamente - uma concepção normativa de natureza. A afirmação de que Reich estaria propagando um ideal naturalista é sempre aduzida por aqueles que defendem um ideal culturista, ou seja, adaptação às normas de uma sociedade existente ou de uma utopia inventada.

Reich evitou o estabelecimento de um ideal normativo. Nem por isso foi um relativista. Ele pesquisava as origens de determinadas doenças, isto é, das neuroses/encouraçamentos (de caráter) e das "biopatias" dos indivíduos, que, em forma de fenômenos pandêmicos, exercem uma influência decisiva sobre a vida social. Reich via a origem desses processos sobretudo na educação, especialmente em seus componentes inconscientes e, por isso mesmo, difíceis de serem evitados (1926: »Der Erziehungszwang und seine Ursachen«). Por isso defendeu em seu projeto tardio, »Children of the Future« (1950), uma educação acompanhada e orientada pela pesquisa que, no decorrer de gerações, se transformaria numa profilaxia cada vez mais eficiente contra aquelas doenças.

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Sara Quenzer Matthiesen

Ainda que não fosse pedagogo de profissão, mas, médico - inicialmente psicanalista - Wilhelm Reich revela ser a educação alvo constante de suas preocupações e investidas críticas, encontrando-se, não à toa, diluída entre seus mais de vinte livros e dezenas de artigos, integrados a discussões diversas acerca da sexualidade infantil, da moral sexual, entre outras problemáticas concernentes à sua teoria da economia sexual. Eterno preocupado com a tríade: sexualidade, criança e educação, Reich, ainda que praticamente desconhecido no campo educacional, oferece contribuições que merecem ser investigadas, sobretudo por vincularem a educação à aposta na possibilidade de profilaxia das neuroses, quiçá, a um futuro melhor. Inserindo-se na discussão reinante entre psicanálise e educação e mediante intensos envolvimentos institutionais e sociais - como a Associação Psicanalítica Internacional e o Partido Comunista - Reich demonstra, claramente, as interferências da psicanálise freudiana em suas preocupações educacionais iniciais, delineando aquilo que, talvez, pudesse ser considerado como uma teoria educacional de base reichiana.

Ainda que a educação assuma na obra reichiana uma perspectiva ampla, de médio/longo prazo, cujo sucesso dependeria de fatores diversos, isso não impede Reich de revelar afinidades pedagógicas  entre os princípios daquilo que denominou como "pedagogia econômico-sexual" e o trabalho np campo educacional de autores como Alexander Sutherland Neill, fornecendo-nos subsídios para refletirmos acerca da educação contemporânea.

Sara Quenzer Matthiesen

Obwohl Wilhelm Reich ursprünglich kein Erzieher, sondern Arzt und anfangs Psychoanalytiker war, haben seine Sorge und kritischen Einwände doch auch immer wieder die Erziehung zum Ziel. Und so ist es denn nicht weiter verwunderlich, dass diese Sorge auf seine mehr als zwanzig Bücher und zig Artikel verstreut ist, sowie in verschiedene Diskussionen über kindliche Sexualität, über Sexualmoral und weitere der Theorie der Sexualökonomie zuzuordnende Bereiche eingeflossen ist. Der stets um das Dreigestirn Sexualität, Kind und Erziehung bemühte Reich hat so auf dem Gebiet der Erziehung beachtenswerte Beiträge zu bieten, wenn er auch in diesem Fach nahezu unbekannt geblieben ist. Hervorzuheben ist vor allem die Tatsache, dass er die Erziehung im Zusammenhang mit der Möglichkeit der Neurosenvorbeugung und damit einer hoffentlich besseren Zukunft sieht. Indem er in die laufende Diskussion um Psychoanalyse und Erziehung eingreift und sich sowohl institutionell als auch gesellschaftlich intensiv engagiert (siehe Internationale Psychoanalytische Vereinigung und Kommunistische Partei), bringt Reich deutlich zum Ausdruck, dass die freud'sche Psychoanalyse seine anfänglichen Erziehungsbemühungen beeinflusst hat, und darin zeichnet sich ein Entwurf ab, den man vielleicht als eine auf Reich basierende Erziehungstheorie betrachten könnte.

Wenn die Erziehung bei Reich auch in eine umfassendere, kurz- bzw. mittelfristige Perspektive gestellt ist und ihr Erfolg von verschiedenen Faktoren abhängig gemacht wird, so deckt Reich doch pädagogische Zusammenhänge zwischen den Grundsätzen seiner so genannten "sexual-ökonomischen Pädagogik" und der von Autoren wie Alexander Sutherland Neill auf dem Gebiet der Erziehung geleisteten Arbeit auf. Damit gibt er uns Ansätze für eine Reflexion über die zeitgenössische Erziehung an die Hand.


Bernd A. Laska

Es stimmt: Reich hat zwar kein Buch speziell über Erziehung geschrieben; aber seine Auffassung von deren zentraler Bedeutung für Individuum und Gesellschaft muss man sich dennoch nicht mühsam aus all seinen Büchern zusammensuchen.

Bernd A. Laska
Er hat sie schon 1926 in dem Artikel »Der Erziehungszwang und seine Ursachen« (der übrigens als einziger in der Sammlung »Children of the Future«, 1983, fehlt) deutlich genug zum Ausdruck gebracht. A sua visão já ficou claramente expressa no artigo »Der Erziehungszwang und seine Ursachen« (»A compulsão a educar e suas causas«), publicado em 1926 (aliás o único artigo que falta na coletânea »Children of the Future«, de 1983).
Wenn Reich dort abschliessend betont, "dass die ursprüngliche lebendige Kraft, die der Erziehungszwang [durch Introjektion eines Über-Ichs] zähmen will, aus sich selbst heraus einmal Kultur geschaffen hat" und dass sie sich ihre "notwendigen Daseinsformen selbst am besten zu schaffen vermag", dann ist darin schon die ganze Sprengkraft enthalten, die Freud erkennen liess, dass mit Reich - auch wenn er sich damals als sein eifriger Schüler gerierte - nicht nur wieder ein Abtrünniger wie Adler, Jung et al., sondern sein wirklicher Antipode heranwuchs. Freud entledigte sich seiner hauptsächlich deswegen.

Reich schrieb schon damals, dass das Problem der Erziehung nicht von dem der Gesellschaftsordnung und dem der Neurosen zu trennen sei, dass "Erziehung, wenn sie einen Sinn haben soll, Massenarbeit sein muss." Einige Jahre lang versuchte Reich, diese Auffassung in sozialistischen und kommunistischen Organisationen zu vertreten und auch eine theoretische Brücke zwischen den beiden damals einflussreichsten Aufklärern, Marx und Freud, zu schlagen (»Dialektischer Materialismus und Psychoanalyse«, 1929). Doch Reich wurde von den Marxisten aus dem gleichen, tieferen Grunde abgelehnt und ausgeschlossen wie von Freud: er galt als Gefahr für "die Kultur".

Was die "sexualökonomische Pädagogik" betrifft, so wäre aufgrund der doch beträchtlichen gesellschaftlichen Veränderungen seit Reich (der noch gegen autoritäre Kleinfamilie, sexuelle Unaufgeklärtheit, Wohnungsnot, Verhütungs- und Abtreibungsrestriktionen etc. anschrieb) offensichtlich eine drastische Aktualisierung aufgrund empirischer Forschungen vonnöten. Dies dürfte in einem Klima der Permissivität und der darin aufgeblühten "Neo-Sexualitäten" (Sigusch) erhebliche theoretische Probleme bereiten. Reich als Paria, seine kultursprengenden Ideen, die Freud und die Psychoanalytiker der 20-30er Jahre noch deutlich spürten und fürchteten, beides dürfte heute, nicht nur im Bereich der Erziehung, schwer vermittelbar sein.

 
Die Frage drängt sich auf, ob Reichs Ideen in den letzten fünfzig Jahren obsolet geworden sind. Wer sie verneinen will, wer Reichs Aktualität behauptet, steht unter hohem Begründungsdruck. Impõe-se a pergunta se as idéias de Reich não se teriam tornado obsoletas nestes últimos 50 anos. Quem achar que não terá que enfrentar uma pressão enorme para justificar essa sua opinião.


Seminário »Wilhelm Reich«
Instituto Goethe, São Paulo, 22 e 23 de novembro 2002

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